sexta-feira, 1 de abril de 2011

ANDE SOBRE AS ÁGUAS.


PARTE II. “SOBRE AS ÁGUAS COM CRISTO”.          
No ocaso de mais um dia na vida de Jesus e junto aos seus seguidores fiéis, Ele mandou que os mesmos fossem à cidade de Genezaré, do outro lado do Mar da Galiléia, e que ali esperassem por ele. Antes de ir para suas orações da noite, o Senhor ainda os viu se afastarem lentamente da margem ao sabor de uma brisa suave.
Pela manhã bem cedinho ao se levantar do seu local de oração e repouso, aguçou as vistas procurando o mesmo barquinho com os seus discípulos. Agora não mais várias jornadas de distância, ou estádios separavam o barco do ponto de partida, mas milhas de distância se interpunham entre eles e o local onde Cristo se encontrava. E Ele, Jesus, sabia não apenas por ver a tempestade desabando sobre toda a região, mas tinha plena consciência da real situação de desespero dentro da embarcação.
Ali havia insegurança diante das ondas traiçoeiras, mais ainda, um verdadeiro pavor haveria de ter-se assenhoreado daqueles homens experientes na lida com o mar, e por isso sabiam que a morte por afogamento os rondava.
Jesus haveria de estar sentindo-os em suas aflições.            Assim como a lógica humana ou a ciência não pode explicar, como a voz de uma pessoa discursando para mais de cinco mil almas a céu aberto, e sem qualquer recurso eletrônico moderno, pode enviar seus sinais a dezenas de caixas acústicas espalhadas entre a multidão, e fazer-se audível e inteligível à todos, mesmo sofrendo a interferência dos ventos e de outros fatores também naturais. Se haviam cinco mil homens, avaliemos:
Quantos desses se faziam acompanhar de suas esposas, somadas também ao número de seus filhos e filhas menores que os acompanhavam? Acresçam ainda, viúvas em idade avançada, amparadas pelos seus, em busca de uma cura para suas dores. E todos ouviram a pregação do Mestre. Circunstâncias sobrenaturais, embora que não descritas nas Sagradas Escrituras, também atestam, mesmo que de forma velada, o poder daquele que era, é, e será sempre o Senhor de todas as coisas.
Muito está escrito nas entrelinhas das escrituras, mas essas letras que não se vê, só podem ser lidas e discernidas pelos olhos daquele que têm fé, a mesma fé que transforma e informa a mente esclarecida pela Verdade; e essa Verdade é o fio condutor por onde trafega a ação do Espírito Santo que vai esclarecer a toda criatura do poder que há no Filho de Deus.
Sendo esta uma Verdade absoluta, nos resta esclarecer o que vem a ser afinal, essa tal questão sobre a fé.
Vejamos:
1º.Ela não faz parte da nossa natureza física intuitiva ou racional, nem tão pouco vive latente na psique de cada ser humano a espera de um despertamento ocasional. Não, a fé com a qual lida o povo de Deus é diferente, não é um dom natural.
2º. Ela é outorgada a quem a busca, por compreender os desígnios de Deus aos homens que a aceitam; ou então é dada a alguém pela simples vontade do Pai.
3º. Ela constrói no coração de homens simples, verdadeiros monumentos de determinação em torno de uma causa cristã; e a partir de então, cerram fileiras ao lado de Cristo realizando grandes feitos durante a vida. Portanto ela vem do alto, é sobrenatural.
Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem”.  (Hebreus 11:1) 

E era esse o elemento, o fio condutor que ligava Cristo, a todas as milhares de pessoas que se dispuseram a ouvir o “Sermão da Montanha”. (Mateus 14: 13-21).
Foram em busca de algo quando O seguiram. Procuraram-no para alferirem para si, o benefício da cura; e receberam.(Lucas 11:9)         
Essa maravilhosa ligação conduzida pelo Espírito Santo, só é possível entre dois pontos: Deus e o homem.
Quando não existe qualquer tipo de interferência criada pelo homem, bloqueando o trânsito da inspiração -
Deus X homem ou, homem X Deus.
Assim como as ondas de rádio (FR) podem sofrer interferências a partir de descargas elétricas na natureza, ou obstáculos que dificultem sobremaneira a sua progressão no éter, ou ainda, receptores não capacitados para receberem as mensagens de uma fonte geradora de irradiação; assim é também, a comunicação entre Criador e criatura. Não pode haver obstáculos de natureza moral ou espiritual que impeçam tal comunicação, por exemplo, como os que ocorreram com o casal adâmico no início da caminhada sobre o orbe. Escolheram cortar a comunicação direta com Deus e seguir o seu caminho de silêncio e separação.          
O pecado cometido de forma consciente é a maior barreira entre a fonte geradora de sinais que é Deus, e a “antena” receptora, o homem. Apesar desse empecilho constante, nunca as emissões de sinais foram interrompidas em direção aos homens de boa vontade.          
Em meio às agruras de uma tempestade no mar da Galiléia, houve uma interrupção de sintonia entre as “antenas receptoras” e a fonte de emissão de poder. O medo ocasional lhes embotava os sentidos, levando-os a se esquecerem da esperança e da fé no Redentor.          
Deus, revestido dos mesmos critérios magnânimos que teve para com toda a humanidade através dos tempos, providenciou para que uma fantástica mensagem de esperança, redenção e preparação da vida espiritual futura, fosse pessoalmente entregue as suas criaturas por um mensageiro divino (João 3:16).
Foi uma ação de extremo amor, doar em favor do homem o seu próprio Filho. E esse Filho, revestiu-se da natureza física humana e habitou entre nós (João 1:14). Esse portador, também ficou reconhecido como Emanuel, ou seja, “Deus conosco”, conforme o texto contido no livro do profeta Isaias 7:14 e 8:8.
Conseqüentemente, fica claro até mesmo ao discernimento mais tacanho, que, como havia prometido anteriormente, o próprio Pai desceu até nós para ajudar a humanidade em um momento de extrema dificuldade de comunicação entre o céu e a terra.          
Por essa promessa, o maior condutor de energia espiritual em prol de benefícios à humanidade, desceu da montanha onde passara a noite em oração, e foi aplicar os reparos necessários para restabelecer a comunicação que havia sido interrompida entre Ele e seus discípulos. Naquela situação, o medo foi o fator de quebra de comunicação entre Cristo e aqueles homens. Embora a interferência fatal estivesse diretamente ligada a ação de águas, ventos e eletricidade, o defeito estava localizado exatamente na mente dos elementos receptores, pois aquele sentimento nefasto (o medo), os alijava do raciocínio espiritualizado de fé absoluta no Senhor mesmo diante das maiores agruras. E isso os separava da fonte de poder. Havia se rompido no “coração” de cada um daqueles navegadores, um pequeno filamento que conhecemos por fé. E a partir de então, só uma interferência direta iria reparar os danos causados pelo medo.           
Fazendo uso da “licença poética” para versar sobre o conteúdo do Livro Sagrado, e assumindo os cuidados de não alterar seu texto original, fecho os olhos e abro mente e consciência cristãs, para “ver” que, naquela manhã turbulenta, pacientemente, Jesus foi descendo com cuidado a encosta vencida no dia anterior, e chegando a praia, não parou; continuou em direção às águas e adentrou ao mar, caminhando.          
Iniciava-se ali, mais uma jornada sobrenatural pela missão de redirecionar para si, a fé de um grupo de homens esquecidos de Deus, em meio ao pavor que se apoderara de cada um. O poder que transcende a compreensão do cético, operava radiosamente naquela vida divina, pois ia além até mesmo da compreensão dos que O conheciam e amavam. Radiante, continuava vencendo a distância que o separava dos seus para, ato contínuo, estar caminhando exatamente a poucos metros da embarcação a ponto de vê-los na faina e aflição dos esforços para continuarem vivos. Vento e água agora violentos tentavam impedir o progresso no avanço daquela figura sobrenatural. No início de um dia nebuloso e frio, era difícil enxergar alguma coisa poucos metros adiante da nau.
Repentinamente, um dos homens exaustos pensou ter visto alguém andando sobre a superfície do mar. Duvidoso, firmou sua vista na direção em que olhara e gritou! Foi um urro de pavor o que saiu daquela garganta ressequida e alertou os demais, que prestaram atenção na direção em que o colega apontava aterrorizado. O que viram foi uma figura indefinida em meio a nebulosidade, por causa da chuva que dificultava a visão... - O que seria aquilo? Assemelhava-se a um homem que caminhava parecendo querer passar à frente deles e seguir adiante. O terror se apoderou de todos.
Nesse instante de suas vidas se achavam completamente fora de sintonia com a mente do Mestre. Viviam ali então, somente a realidade do caos que suas razões físicas e dominadas pelo pavor os induzia. A única realidade que podiam compreender movidos pelo medo, foi expressa em gritos medonhos, afirmando: - É um fantasma! E aterrados, continuavam gritando e apontando para a visão.          Entretanto o Senhor dos mares, da vida e da esperança, virando o rosto para olhá-los ergueu suas mãos em direção aos gritos e anunciou: -Tende bom ânimo! Sou eu! Não temais!
Foi quando então entre desespero e alívio, medo e um novo alento de esperança, reconheceram Cristo andando sobre as águas agora em direção a eles.
Foi quando alguém gritou: - É o Mestre!
Entre a realidade do pavor instalado na mente, a constatação definitiva do incerto e o surgimento de uma esperança se interpõem um espaço de tempo, que pode ser avaliado visualmente a partir das reações expressadas pela pessoa.
Entre a instalação do desespero e a acomodação emocional final, ocorre uma ação fantástica no corpo. É quando o hormônio chamado adrenalina ou epinefrina, que é secretado pelas glândulas supra-renais nos momentos de “stress”, explode.
Esse hormônio é jogado na corrente sanguínea e sob esse comando, rapidamente o corpo inicia ações como se praticasse uma auto defesa, se preparando para esforços físicos acentuados. Essa ação vai estimular o coração, aumentar a pressão arterial e contrair a grande maioria dos músculos, acelerando os batimentos cardíacos, elevando também o nível de açúcar no sangue, entre outras ações. Tudo isso contribui para que o corpo esteja em total estado de alerta diante de uma grande dificuldade. Uma das causas que pelo lado psicológico pode estimular e desencadear a ação da adrenalina, é o medo. Durante essa ação interna do corpo, o cérebro, em um lapso de tempo, reagrupa conjecturas ou possibilidades para em seguida, aceitar a realidade de que pode haver uma melhora. Em um ínfimo espaço de tempo, ocorre tudo isso. A mente do apóstolo Pedro parece ter ficado paralisada nesse espaço de tempo. Dividido entre pavor instalado X esperança, retruca:
- Se és tu, Senhor, manda-me ir ter contigo por sobre as águas!
O tempo requerido pela mente entre a instalação do pavor, a constatação de uma nova realidade e a satisfação de um sentimento de esperança, nos leva a crer que aquele homem já havia reconhecido e compreendido a nova situação em que agora se encontrava. Entretanto, percebe-se que a acomodação dos sentimentos conturbados daquela noite, o compelia mais a “procurar colo”, do que exatamente constatar quem ali estava de braços abertos para eles em meio ao mar.
Era certo que não precisava mais de uma comprovação real e definitiva sobre os acontecimentos. Se encontrava agora, entre a segunda e a terceira fase do equilíbrio mental satisfatório.          
Cristo bem sabia quem estava lhe falando, quem estava ainda levantando dúvidas desnecessárias e buscando provas sobre sua presença. Mesmo que de forma sobrenatural bem perto deles, era aquele mesmo discípulo tão desconfiado quanto amado pelo Mestre.
Era essa a sua natureza, e era o mesmo que reagira negativamente no dia anterior, quando o Senhor lhe mandara distribuir cinco pães e dois peixinhos para alimentar a milhares de pessoas com fome. Era o mesmo que por ocasião da prisão de Cristo, cortaria a orelha de Malcon, servo do templo.
Jesus lhe disse: - Vem!          
Determinação: É a ação de determinar ou ordenar.        
Convicção: É a certeza de um fato do qual se tem apenas provas morais, ou; a convicção existe a partir da certeza adquirida por demonstrações.          
Se Jesus Cristo era naquele momento o pólo determinador, logo, Pedro  seria o pólo convicto... ou deveria ser!          Entre determinação e convicção também existem diferenças e uma distância entre ambas para ser entendida. Naquela situação, após o “vem” com total determinação por parte de Cristo, a ação movida pelo apóstolo, imbuído de uma convicção dúbia gerada pela desconfiança, a distância entre essas ações, pode ser medida pelo tempo que demorou em formular a interrogação e receber a resposta.          
Em nossos dias, qual é o tempo que uma pessoa comum demora, entre; ouvir a palavra de salvação por parte de Deus exarada nas Escrituras, e exercer por vontade própria a determinação de ir até Cristo, aceitando-o como Salvador?
Esse espaço criado pela mente do homem, pode ser a maior armadilha em sua vida, pois nesse espaço de tempo ele pode perdê-la, sem ter alcançado Cristo e não ter tempo para salvar a sua alma. Foi nessas circunstâncias que Pedro levantou uma perna e a transpôs para fora do barco. Fazendo o mesmo movimento com a outra, sentou-se na amurada e projetou o peso do seu corpo sobre a superfície da água. Não deve ter largado da amurada sem antes dar uma rápida olhada para trás buscando nos olhos dos companheiros um sinal de aprovação para o que estava fazendo. Estava ainda vivendo naquele espaço de tempo mais perigoso da sua vida. Mas Pedro deveria sim, estar muito mais interessado em olhar para a frente e diretamente nos olhos que não o perdiam de vista um só momento. Mais uma vez, sem que para isso precise fazer qualquer esforço mental, sinto na expressão do Mestre aquele imperceptível sorriso em seus lábios, emoldurados de uma grande paixão pela criatura. O concerto precisava ser realizado. O mar encapelado ainda rugia fazendo um dueto com o forte vento que molhava e sacudia as vestes, barba e cabelos daquele homem. E Pedro andou por sobre as águas como pedira.         
De início, com o peito cheio de certeza ou talvez até mesmo imbuído de uma grande convicção por poder chegar pertinho do Mestre, foi caminhando... O mar se tornara repentinamente traiçoeiro, o sobe e desce das ondas repetidamente lhe causava certa dificuldade no andar. Levantando os olhos, já divisava sem qualquer dúvida, a figura do Senhor. Percebeu o barco a uma distância maior, Jesus o esperava pacientemente em um ponto adiante. 
Alguma forma de contato ou comunicação espiritual por mais fraca que fosse ali, já estava se restabelecendo antes mesmo daquele homem sair de dentro do barco. Havia uma retomada de sintonia entre eles. O homem sentia que era bom e agradável olhar para frente e constatar naquele rosto divino,  o brilho da confiança que  irradiava, dando-lhe a condição necessária para guiá-lo para junto de si.           Talvez Pedro em algum momento tenha percebido que seus pés estavam molhados, olhou para baixo prestando atenção na instabilidade do leito líquido onde pisava. E o vento estava tão forte! Havia desviado os olhos da pessoa de Jesus e a insegurança se apossou de sua mente; teve medo e imediatamente viu seus pés desaparecerem e notou apavorado que seus joelhos já estavam quase submersos: estava afundando!         
É nesse instante que se compreende a distância entre quem determina e quem está realmente convicto de sua decisão. Percebendo que nesse espaço poderia perder a vida, instalou-se o medo em seu coração. Ciente do perigo que estava correndo e sentindo-se sem qualquer alternativa senão pedir socorro, olhou para frente e gritou: -Salva-me Senhor, pois pereço! Para em seguida, sentir uma mão forte e salvadora fechar-se em torno de seu braço e puxá-lo para cima, permitindo que se firmasse na superfície.       
O final dos reparos, aqueles concertos necessários ao espírito e consequentemente na fé de cada um, então se fez definitivamente a partir das palavras duras e orientadoras vindas do Mestre: - Homem  de pequena fé, por que duvidaste?        
Essas palavras foram suficientes para fazer a todos estremecer, e com isso concluir qualquer reparo que ainda se fizesse necessário naquelas vidas. Restabelecido o processo de comunicação inter mentes, os andarilhos marítimos retornaram caminhando ao barco onde foram recebidos e ajudados a subir, com o entusiasmo que só corações bem intencionados e exultantes podem expressar. Gritaram: em coro: - Verdadeiramente és o Filho de Deus!Você também pode andar sobre as águas! Essa possibilidade está diretamente relacionada à proporção da sua fé.